O texto interroga as relações entre tradicionais formas hierárquicas de organização político-estatal de territórios Latino-americanos e novas formas horizontais de uso e apropriação desses territórios por parte de grupos sociais não hegemônicos. Com base nessa indicação, tratamos das tensões que surgem dessa relação e dos obstáculos, desafios e alternativas ao reconhecimento das autonomias regionais requeridas por territorialidades não hegemônicas: a reflexão teórica é orientada a partir de uma das concreções do espaço geográfico, a categoria território, que é tanto resultado do processo histórico, quanto base material e social das ações humanas. A análise acontece a partir de contextos de “modernização periférica” – de adequação dos territórios nacionais às exigências do mercado global –, onde exacerbam-se os conflitos entre diferentes territorialidades e, conseqüentemente agravam-se os embates por novas delimitações territoriais. Empiricamente, verifica-se que conjuntamente à tradicional “territorialidade estatal” e sua geopolítica hierárquica, junta-se uma nova “geopolítica popular” apoiada na atualização de tradicionais territorialidades, como são os casos dos territórios quilombolas (habitados por descendentes de escravos) e indígenas no Brasil e no México com o caso de “los caracoles”.

CATAIA, Márcio. Territorialidade Estatal e Outras Territorialidades: Novas Formas de Uso dos Territórios na América Latina. Conflitos, Desafios e Alternativas. Scripta Nova (Barcelona), v. XII, p. 270/99, 2008.