No final do século XX uma série de eventos em escala global passou a condicionar muitas das políticas públicas e privadas e a influenciar diretamente na organização social e espacial do território brasileiro. São eventos que implicam na transformação das práticas e na mudança da lógica que preside a organização do espaço. Dentre muitos eventos é possível destacar a globalização, a internacionalização dos mercados, a criação de novos parâmetros de produtividade e o novo papel do Estado que passa, então, a compartilhar com outros agentes as ações de ordenamento do território. Os agentes externos, hegemônicos, colaboram para a criação de espaços onde a solidariedade é substituída pela competitividade e eficiência, criando exclusão e desigualdade social. Na década de 1970, com a criação de regiões funcionais voltadas à exportação de commodities agrícolas, como os novos fronts agrícolas do Cerrado brasileiro, uma nova demanda por sistemas de transporte foi criada. As ferrovias aparecem, então, como uma das melhores opções para atender essa demanda. Para reativar as ferrovias e aumentar sua produtividade, estas, que até então estavam sob controle da União através das empresas RFFSA, FEPASA e CVRD, foram privatizadas e transferidas para a iniciativa privada. Estas empresas, então, passam a influenciar diretamente na organização do território brasileiro. Este trabalho pretende, então, identificar as implicações que as atuais políticas relacionadas à reativação do sistema ferroviário brasileiro voltado ao escoamento de produtos agrícolas podem trazer para a sociedade e o território. Dentre algumas conclusões é possível destacar que os planos de desenvolvimento dos últimos anos e os investimentos realizados pelos governos e pela iniciativa privada no sistema ferroviário reforçam a integração do território brasileiro aos mercados internacionais, criando redes extravertidas e promovendo a fluidez territorial para apenas algumas regiões, empresas e atividades econômicas