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A Geografia está em luto. Viva a Geografia!

Uma notícia muito triste nos chegou na manhã do feriado de 7 de setembro deste ano.

Ocorre que na noite da última quarta-feira, dia 06 de setembro de 2023, faleceu o Professor Doutor Carlos Walter Porto-Gonçalves, aos 74 anos de idade. Titular do Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense – UFF, foi um importante intelectual e referência da esquerda geográfica brasileira.

Sendo uma das grandes referências da Geografia Brasileira, Carlos Walter Porto Gonçalves (1949 – RJ), recebeu inúmeras premiações pelos seus trabalhos e é reconhecido internacionalmente por seus estudos e atuações nos movimentos sociais sul-americanos, tendo formado inúmeros alunos e pesquisadores brasileiros e latino-americanos.

Defensor de uma Geografia social, uma Geografia política crítica, de intervenção, por meio dos movimentos sociais vivos e não pelos órgãos de Estado, o geógrafo também se destacou pela sua interpretação e estudos ambientais, intervindo por uma geografia mais unificada entre a sociedade e a natureza.

Filho de pai operário, o professor Carlos Walter foi construindo sua formação política fora dos muros da universidade, e antes de exercer suas funções acadêmica e profissional. Embora não seja um marxista ortodoxo sua formação teve influência de Marx e de marxistas, como Rosa Luxemburgo.

Graduou-se em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (1969 – 1972). Realizou seu mestrado em Geografia Humana da Universidade de São Paulo – USP, sob a orientação do professor Milton Santos (1981 – 1985), com uma dissertação que avaliou o Relatório do Clube de Roma. Doutorou-se em Geografia na UFRJ, sob a orientação de Lia Osório, sobre a territorialidade seringueira (1994 – 1998). Paralelamente a sua formação acadêmica, em função de sua atuação nos movimentos sociais, o professor Carlos Walter adquire também conhecimento de comunidades tradicionais. Sua aproximação com Chico Mendes foi fruto dessa trajetória intelectual e científica. Seu vínculo com as lutas sociais e ambientais era combustível permanente para a criação intelectual. Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga foram locais por onde percorreu, pesquisou e ajudou a pensar sobre esses diferentes ambientes e sobre os povos que dão vida a eles.

Nos anos 2000 tornou-se referência também para a Geografia da América Latina e seu livro “A globalização da natureza e a natureza da globalização” recebeu o prêmio Casa das Américas de Cuba.

Lecionou na PUC-Petrópolis, na Faculdade Estácio de Sá, na Faculdade de Filosofia de Campos, na PUC-Rio de Janeiro, e ingressou como docente no Departamento de Geografia da UFF em 1987. Teve forte participação no movimento de renovação da Geografia em finais da década de 1970, a chamada Geografia Crítica. Seu texto “A geografia está em crise. Viva a geografia!” de 1978 foi um dos marcos desta virada. Suas pesquisas, publicações e orientações espelham a postura combativa e crítica do autor. Foi também um dos grandes responsáveis pela renovação da Geografia da Universidade Federal Fluminense – UFF, no final da década de 1980 e pela implantação do Programa de Pós-graduação, no final da década de 1990.

Também atuou junto a Associação dos Geógrafos Brasileiros – AGB, tendo importante papel desempenhado em uma diretoria temporária (1979 – 1980), foi vice-presidente (1986 – 1988) e presidente da entidade (1998 – 2000). Além das inúmeras contribuições a entidade enquanto associado e participando de encontros da AGB.

Geografia e conflitos sociais constituem na atualidade sua grande linha de estudos e ações, associando Política, Geografia e Teoria Crítica. Publicou muitos artigos científicos e livros. E fundou o Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades – LEMTO.

O Professor Carlos Walter Porto-Gonçalves nos deixa um imenso legado. Neste momento de tristeza e saudade, estendemos nossos sentimentos à família e aos amigos e entendemos que sua ausência será sentido por toda a Geografia brasileira e em todo o mundo acadêmico pelo grande intelectual, geógrafo, professor e pessoa que foi.

Descanse em paz, querido mestre. Seu legado de militância e luta pelas causas sociais e ambientais viverá para sempre em nossos corações e em nossa ciência. E como disse o grande Guimarães Rosa, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), em 1967:

As pessoas não morrem, ficam encantadas…
a gente morre é para provar que viveu.

João Guimarães Rosa em “discurso de posse na Academia Brasileira de Letras (ABL)”. 16.11.1967.

Viva Carlos Walter Porto-Gonçalves!
Carlos Walter presente, hoje e sempre!


Fontes:
Textos – “Dicionário dos geógrafos brasileiros – UERJ”, “Encantou-se Carlos Walter Porto Gonçalves” e “Nota de pesar – Carlos Walter Porto-Gonçalves”.
Imagem – https://jornal.ufg.br/n/105640-uma-geografia-do-ensino-superior

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