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A misteriosa Linha de Wallace

Imagine uma linha invisível que corta o mapa do planeta e muda completamente o tipo de vida que existe de cada lado. Essa é a misteriosa Linha de Wallace, uma fronteira natural que separa o mundo animal da Ásia do da Australásia. De um lado, elefantes, tigres e macacos. Do outro, cangurus, coalas e animais que põem ovos, como o ornitorrinco. Mesmo que os territórios estejam a poucos quilômetros de distância, as espécies simplesmente não cruzam essa linha.

Descoberta no século XIX pelo naturalista britânico Alfred Russel Wallace, essa fronteira biogeográfica corta o arquipélago da Indonésia e intriga os cientistas há mais de 150 anos. Enquanto explorava as ilhas da região, Wallace percebeu algo fascinante: entre duas ilhas próximas, a fauna mudava de forma abrupta, como se um muro invisível dividisse dois mundos evolutivos.

Em 1863, o naturalista Alfred Russel Wallace propôs essa divisão ao notar que, embora Bornéu e Sumatra compartilhassem fauna com o continente asiático, Sulawesi e ilhas adjacentes possuíam animais mais semelhantes aos da Austrália, repercute o National Geographic.

Ele percebeu que a barreira estava associada a uma peculiaridade geográfica: enquanto muitas ilhas da região estiveram ligadas por pontes terrestres durante as eras glaciais, uma fenda oceânica profunda, o Estreito de Makassar, jamais secou completamente. Isso impediu a migração de diversas espécies, mantendo-as isoladas e permitindo que evoluíssem separadamente.

Essa separação é tão marcante que nem mesmo algumas aves, capazes de voar entre os territórios, ultrapassam a fronteira biogeográfica. Bandos asiáticos prosperam em um lado, enquanto grupos de cacatuas australianas permanecem no outro.

Formação

A chave desse fenômeno está na geografia submersa da região. No passado, África, Índia, Austrália, Antártica e outros continentes faziam parte de um único bloco terrestre. Com o movimento das placas tectônicas, essas massas se separaram, e algumas colidiram.

Quando a Austrália se desprendeu da Antártida, chocou-se com a placa asiática, formando o Arquipélago Malaio. Esse processo também criou um oceano profundo ao redor da Antártida, onde surgiu a Corrente Circumpolar Antártica (ACC), essencial para a regulação climática global.

Durante as eras glaciais, o nível do mar baixava, criando pontes terrestres que permitiam a migração de algumas espécies entre as ilhas. No entanto, o Estreito de Makassar jamais secou completamente, impedindo a travessia de muitos animais.

Assim, enquanto tigres e elefantes asiáticos avançaram até a Nova Guiné e o norte da Austrália, os marsupiais não puderam retornar pelo mesmo caminho. Mesmo aves, que poderiam facilmente sobrevoar a barreira, tendem a permanecer onde há alimento e condições favoráveis.

Impactos

Além de moldar a distribuição da fauna, a Linha de Wallace teve um impacto significativo no campo da biogeografia, influenciando o pensamento evolucionista do século XIX.

Wallace e Charles Darwin usaram suas observações para embasar a teoria da seleção natural, demonstrando como barreiras geográficas impulsionam a formação de novas espécies, conforme conta o National Geographic.

Além da vida selvagem, a Linha de Wallace também tem sido objeto de estudo no contexto humano. Desde os primeiros relatos de navegadores europeus, notou-se que as populações a oeste da linha possuíam características associadas aos povos malaios, enquanto as a leste tinham semelhanças com os papuas.

Durante décadas, essas observações foram usadas para justificar distinções raciais, e debates sobre a diversidade humana na região persistem até hoje.

O impacto dessa fronteira se estende ainda para a cultura e a política. A geografia que moldou a distribuição das espécies também influenciou rotas migratórias, trocas comerciais e interações entre diferentes sociedades. Hoje, pesquisadores analisam como fatores como mudanças climáticas e perda de habitat podem alterar as barreiras ecológicas e culturais ao longo do tempo.

Novos estudos

Pesquisas recentes explicam que essa barreira nasceu de eventos geológicos antigos. Milhões de anos atrás, quando a Austrália se separou da Antártica e a Ásia se deslocou, formaram-se oceanos profundos e correntes marítimas que impediram a migração de espécies terrestres e marinhas. A diferença de clima e habitat entre os dois lados fez com que cada ecossistema seguisse seu próprio caminho evolutivo.

De um lado da linha, animais de origem asiática, fortes e adaptados a florestas tropicais. Do outro, criaturas únicas da Oceania, como marsupiais e aves exóticas. É como se a Terra tivesse desenhado suas próprias fronteiras biológicas, não com muros, mas com oceanos e correntes que moldaram a história da vida.

Em 2023, pesquisadores da Universidade Nacional Australiana e da ETH Zurique analisaram dados de mais de 20 mil espécies para entender melhor a influência dessa divisão. Os resultados, publicados na revista Science em 2023, indicam que a fronteira traçada no século XIX pode não ser tão rígida quanto se pensava.

Outros cientistas, como Jason Ali e sua equipe da Universidade de Hong Kong, sugerem um redesenho da linha, argumentando que algumas massas de terra deveriam ser classificadas no lado australiano da fronteira biogeográfica.

Fonte:
Texto e imagem –
Aventuras na História e Memes da vida.

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