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Os inimigos do livro

Se há algo que não existe nas obras didáticas brasileiras é superficialidade.

Edilson Adão.

O mundo da educação assiste consternado a algo que então parecia que era: um secretário da Educação combater os livros didáticos.

O PNLD é um programa educativo criado em 1985 e sucessor do Conselho Nacional de Livro Didático, instituído em 1938 durante o governo Getúlio Vargas. Atualmente, antes de chegarem às salas de aula, os livros didáticos do PNLD passam por um rigoroso processo de avaliação, permanecendo em produção, em média, por três anos: cumprem um edital estabelecido pelo Ministério da Educação, este por sua vez ancorado em regras normativas atraídas na Lei de Diretrizes e Base, Diretrizes Curriculares Nacionais e no mais novo documento normativo da educação brasileira, a Base Nacional Curricular Comum, de 2017.

Após a produção, as obras são mantidas por uma competente banca avaliadora formada por acadêmicos das principais universidades brasileiras e professores da educação básica. Em seguida a esse trâmite, são aprovados ou reprovados. Professores de escolas públicas de todo o país recebem, então, um guia com os livros aprovados. após somente esse filtro é que são escolhidos e, enfim, encaminhados aos alunos.

Toda essa trajetória hercúlea faz o livro didático brasileiro situar-se entre os melhores do mundo. A sociedade precisa ser esclarecida sobre esse fato para refutar mentiras — os livros didáticos são de altíssima qualidade. Não são escritos à revelia, ao léu. Há um longo percurso pautado por solidez conceitual, respeito à relação ensino-aprendizagem e rigor editorial.

O indisfarçado desejo de desqualificar os livros didáticos é o mote para o secretário apresentar sua solução mágica para a salvação da educação paulista : colocá-los em seu lugar um conteúdo digital . A secretaria da Educação paulista age assim exatamente no momento em que a Unesco acaba de desaconselhar o uso maciço de tecnologias digitais na educação. Tecnologia, sim, mas na dosagem adequada. Países com índices educacionais avançados estão procedendo dessa forma, pisando no freio da educação digital, que não se mostrou tão eficiente quanto se pensava.


Edilson Adão Cândido da Silva possui graduação em Geografia pela Universidade de São Paulo (1994) e mestrado em Ciências pela Universidade de São Paulo (2000), área de concentração: Geografia Humana, e é doutorando em Geografia pelo Instituto de Geociências da Unicamp, tendo como orientadora a Profª. Drª. Claudete de Castro Silva Vitte, na área de concentração: análise ambiental e dinâmica territorial. Atualmente é professor de relações Internacionais e autor de livros didáticos para o Ensino Médio e Fundamental da Editora FTD. Tem experiência na área de Geografia e Relações Internacionais, com ênfase em Geopolítica e Geografia Humana, atuando principalmente nos seguintes temas: geopolítica mundial, Oriente médio, América do Sul, dinâmica territorial, redes, e ensino.

Fonte: Folha de São Paulo – Opinião.

Texto: Edilson Adão Cândido da Silva.

Imagem: Kim Heimbuch por Pixabay.

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