A globalização, segundo Milton Santos, nos exige pensar em três mundos que coexistem: a globalização como fábula remete à forma como ela nos é apresentada; a globalização como perversidade corresponde à forma como ela realmente é; e, enfim, a globalização com ela pode ser, ou seja, uma outra globalização. Nosso pressuposto no GOING é que ideia semelhante pode ser utilizada para compreensão da inovação.
Pensar a inovação “como nos fazem crer” corresponde a tratá-la como uma finalidade em si mesma, almejando o crescimento e a competitividade, sem colocar em debate suas estruturas de poder e a “quem” ela serve.
A inovação como “realmente é” torna necessário o conhecimento da posição periférica do Brasil na economia mundial. Trata-se de pensar um sistema de inovação em um país subdesenvolvido; compreender a perversidade de um sistema propício para startups e para as novas ferramentas para superexploração do trabalho no meio urbano; e compreender o processo inovativo em sintonia com a reprimarização e a desindustrialização do país.
A partir dessas reflexões que propomos pensar em “uma outra inovação”. Milton Santos defendeu que as tecnologias digitais que permitem a perversidade podem ter outros usos e aplicações. É possível pensar essas tecnologias como instrumentos para otimizar o processo produtivo e de comercialização dos agentes do circuito inferior; e como mecanismos para estimular a comunicação entre as camadas populares.
Nesses termos, “uma outra inovação” significa pensar a sociedade como protagonista da história. Significa caminhar no sentido de construir uma inovação adequada às especificidades da sociedade brasileira e ao projeto de nação que almejamos.