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Apresentando os múltiplos olhares sobre a fome no Brasil: livro “Da Fome à Fome” é disponibilizado em formato digital

A fome toma conta do Brasil: 33 milhões de pessoas já são atingidas por esta triste realidade, assim como a insegurança alimentar já atinge mais da metade da população do país, tanto pelos constantes aumentos dos preços como pela falta de políticas públicas.

Desta maneira, esta obra evidencia 27 vozes que tecem uma narrativa que busca compreender como pode um país líder em produção agropecuária, com registros consecutivos de recordes em safras, ser também um país que retorna ao Mapa da Fome, com mais da metade de sua população enfrentando algum grau de insegurança alimentar. Esse é o nó que as autoras e os autores do livro “Da fome à fome: diálogos com Josué de Castro“, lançado pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, procuram desatar.

A obra coloca em xeque o sistema agroalimentar brasileiro, retomando e mostrando a atualidade do pensamento de Josué de Castro 76 anos após o lançamento do clássico “Geografia da Fome”. Já na década de 1940, o intelectual pernambucano insistia que a fome não decorria de questões de ordem natural; mas sim de decisões políticas – ou da falta delas. O recente desmonte sofrido pela estrutura de combate à fome e de promoção da segurança alimentar dos brasileiros mostra-se como exemplo didático do que dizia Josué de Castro sete décadas atrás.

“Da fome à fome” é organizado por Tereza Campello, professora-titular da Cátedra Josué de Castro e ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011-2016); e por Ana Paula Bortoletto, pesquisadora assistente da Cátedra. O livro digital é editado pela Zabelê Comunicação. A edição impressa é da Elefante e pode ser adquirida aqui.

Com uma profusão de dados e argumentos, e diversos pontos de vista, Da fome à fome demonstra a falácia que é atribuir o retorno da fome ao Brasil à pandemia de covid-19 ou, pior ainda, à recente guerra na Ucrânia. O problema radica no desmonte das políticas públicas intensificado a partir de 2016, com a destituição da presidenta Dilma Rousseff.

“Usar a covid-19 para explicar o flagelo da fome que se espraiou pelo território nacional é tentar, mais uma vez, esconder o caráter estrutural e a sua natureza política e econômica baseada em um modelo excludente”, afirma Tereza Campello na Apresentação do livro.

Da fome à fome é resultado de seminário realizado em 2021 pela Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Entre os participantes do evento — e autores do livro — estão José Graziano da Silva, ex-presidente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e Carlos Monteiro, um dos maiores especialistas mundiais em nutrição e alimentação, além das pesquisadoras Tania Bacelar e Inês Rugani, dos economistas Ricardo Abramovay e Ladislau Dowbor, e ativistas de movimentos pela alimentação saudável, de lutas antirracistas, por moradia e direitos de comunidades quilombolas — compondo uma miríade de olhares sobre tema tão complexo.

É paradoxal que, hoje, três recordes diferentes sejam recorrentes nas manchetes brasileiras: fome, desmatamento e produção de grãos. O país foi marcado por um aumento assustador da fome — 55,2% das pessoas com algum grau de insegurança alimentar —, enquanto a expectativa é de que a safra de grãos alcance 259 milhões de toneladas em 2022. Tal crescimento da produção de commodities como soja e milho é acompanhado pelo avanço expressivo do desmatamento na Amazônia — o primeiro trimestre de 2022 apresentou os maiores níveis dos últimos seis anos. Essa combinação de fatores produz novas geografias que merecem ser analisadas detidamente: geografia da desigualdade, da pobreza, da produção de alimentos, da crise socioambiental e alimentar, entre tantas outras. […] É fato que o acirramento do quadro de fome e de insegurança alimentar no Brasil está entre as mais graves heranças da pandemia. Mas não esqueçamos que a covid-19 alcançou o Brasil em abril de 2020, e dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017-2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já indicavam a volta da fome. Dois anos antes da pandemia, era possível notar que o país, que havia saído do Mapa da Fome das Nações Unidas em 2014, caminhava na contramão nessa agenda. — Tereza Campello, na Apresentação


Sobre as organizadoras:

Tereza Campello é professora titular da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis, professora visitante da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas em Saúde da Escola Fiocruz de Governo. Foi ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2011-2016).

Ana Paula Bortoletto é doutora em nutrição em saúde pública, pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) e da Cátedra Josué de Castro, da Faculdade de Saúde Pública da USP. É membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável e da Comunidade de Prática da América Latina e Caribe em Saúde e Nutrição (Colansa). Entre 2013 e 2019, atuou no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) como pesquisadora e coordenadora do programa de alimentação saudável.

Fonte:
Texto: Catedra Josué de Castro
; Instituto Clima e Sociedade; Editora Elefante.
Imagem – Catedra Josué de Castro.

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