Menu fechado

Cartografia high-tech: como mapas ajudam a moldar a vida social e cultural

Pesquisador defende que tecnologia permitiu novas interações entre pessoas e mapas, alterando comportamentos

Os mapas e a vida cotidiana estão agora tão entrelaçados para a maioria das pessoas que é difícil imaginar um mundo sem eles. A maioria de nós usa pelo menos um mapa todos os dias. Alguns de nós usam muitos, especialmente agora que eles se tornaram uma das interfaces dominantes da nossa sociedade digital, junto às telas sensíveis ao toque, à visualização da câmera e ao mecanismo de busca.

Também estamos sendo “mapeados” – sutil ou abertamente – por meio do GPS e dos rastros de dados de localização que deixamos, das viagens que fazemos e dos tipos de atividades que realizamos em nosso dia a dia.

Além disso, há outras formas mais analógicas de os mapas fazerem parte de nossas vidas: os mapas do tesouro de piratas e os atlas da infância que revelam um mundo de aventuras; mapas em plataformas de trem ou bicicletários; e mapas no verso de folhetos de propaganda.

Os mapas também têm outros usos menos práticos. Eles são pendurados com orgulho em nossas casas e escritórios, usados para decorar objetos como canecas de café e mouse pads e até mesmo para criar moda.

A cartografia se tornou uma das tecnologias mais bem-sucedidas que desenvolvemos para entender o mundo ao nosso redor. Ao mesmo tempo, os mapas se tornaram importantes objetos culturais e artísticos que valorizamos muito. Eles podem ser úteis e pragmáticos, belos e poéticos, políticos e poderosos, significativos e mundanos.

Moldando a vida social e cultural

Nos últimos dez anos, culminando em meu livro “All Mapped Out” (“Tudo Mapeado”, em tradução livre), meu trabalho me levou a questionar o que os mapas significam para as pessoas em suas vidas diárias e, por sua vez, como os mapas moldam suas experiências.

Os mapas têm recebido muita atenção de pesquisadores e empresas ao longo dos anos, principalmente com o objetivo de produzir o mapa mais preciso e utilizável para uma determinada finalidade, ou estudando como interesses poderosos são refletidos nos mapas.

Os cartógrafos profissionais, antes trabalhando com lápis e papel, e agora com tecnologias geoespaciais avançadas, visam produzir mapas cada vez mais detalhados para usos cada vez mais amplos, enquanto o subcampo da cartografia crítica revelou que o que acaba em um mapa reflete as visões de mundo de seus criadores.

No entanto, apenas há relativamente pouco tempo é que se começou a explorar como os mapas ajudam a moldar a vida social e cultural.

Os mapas e o que fazemos com eles não podem ser definidos universalmente. Os ideais e as ideias sobre mapas frequentemente se chocam com a realidade de como e por que os mapas são usados. Ao fazer minha própria pesquisa, que estuda usuários de mapas em Londres, e o trabalho de outros que estudaram práticas de mapeamento em todo o mundo, quero mostrar como os usos de mapas são moldados por diferentes culturas, comunidades, contextos e tecnologias.

Uma maneira de explorar isso é observar o impacto que a tecnologia GPS teve no mapeamento de nossos movimentos. Hoje, milhões de pessoas usam essa tecnologia para guiar suas rotinas de exercícios, o que, por sua vez, sustenta um setor que vale bilhões.

Mas o autorrastreamento não trata apenas de mapas e medições. Esses mapas tornam-se significativos como objetos inscritos em uma cartografia pessoal. É bom ver onde estivemos; é um sinal de que conquistamos algo.

Algumas pessoas levaram isso mais longe ao usar dispositivos de monitoramento de atividades física como ferramentas para obras de arte, utilizando as funções de GPS para inscrever imagens e palavras no mapa por meio de seu movimento pela terra. A GPS art, como ficou conhecida, está crescendo em popularidade à medida que as pessoas percebem o potencial do rastreamento pessoal fora do exercício de mapeamento puro para objetivos pessoais.

Tudo começou muito antes da proliferação dos smartphones e dos aplicativos de monitoramento de atividades físicas, quando, em 2000, o artista Jeremy Wood começou a trabalhar registrando e mapeando seus movimentos usando um dispositivo GPS portátil. Isso incluiu o rastreamento de suas viagens diárias e até mesmo o registro de suas rotas de corte de grama ao passar das estações. Isso revela como uma tecnologia de mapeamento popular – o GPS – tem muitos impactos além daqueles para os quais foi projetada.

Mapeando contextos

Em meu trabalho, há vários temas que se sobrepõem e que mostram como os mapas estão vinculados à cultura e à sociedade. Quero fazer mais do que identificar mapas que mudaram o mundo ou apresentar a história de mapas e sociedade. Em vez disso, quero mostrar que todos os mapas têm o potencial de mudar o mundo e moldar a sociedade. É só uma questão de onde você olha e em qual mundo você está interessado.

Com meu livro, espero inspirar outro olhar sobre os mapas, primeiro pelas lentes da navegação, talvez a atividade mais fortemente associada aos mapas, depois pelo movimento e como os mapas moldam nossa percepção dele.

Também analiso o poder e a política dos mapas, que revelam quais interesses são atendidos por determinados mapas, e investigo as culturas de elaboração de mapas atualmente. Com as ferramentas de mapeamento digital fáceis de usar agora disponíveis online, e a proliferação de tecnologias avançadas de mapeamento agora usadas por profissionais, o poder da criação de mapas e as culturas que se desenvolvem em torno dos mapas estão mais diversificados do que nunca.

O fato de os mapas e os criadores de mapas estarem sempre mudando faz com que o estudo do que fazemos com os mapas seja uma área interessante em desenvolvimento. Isso significa que nossa compreensão dos mapas deve evoluir com a forma como eles continuam a moldar a sociedade.

Portanto, está mais do que na hora de repensar os mapas. Ainda prevalece a visão de que os mapas são neutros e objetivos, outrora em papel e agora digitais, precisos e funcionais, apesar da frase, agora muito usada, de que os mapas são argumentos feitos sobre o mundo. Por que isso acontece? E como podemos superar isso?

Minha esperança é gerar uma discussão – que até agora só está acontecendo em um pequeno canto dos estudos sobre mapas -, incentivando as pessoas a pensar além das suposições que a sociedade tem sobre os mapas e como os usamos.

Nota do editor: Mike Duggan é professor de Cultura Digital, Sociedade e Economia no King’s College London. O texto foi publicado originalmente pelo The Conversation.

Este texto foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons.

Fonte:
Texto –
CNN Brasil.
Imagem – Getty Images.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *