Capital do Pará tenta desafogar o trânsito e criar leitos de hotel onde pode para receber a conferência do clima da ONU, que acontece daqui pouco mais de um ano
Desde o anúncio de Belém como cidade-sede da COP30, que acontece em 2025, pairam dúvidas sobre a capacidade da capital paraense para receber a conferência do clima da ONU.
O aeroporto internacional Val-de-Cans tem nove portões de embarque. A rede hoteleira tem 18 mil leitos. A organização brasileira foi instruída a não credenciar mais de 50 mil pessoas para o evento oficial, sem contar a programação paralela.
A COP do ano passado, em Dubai, teve o dobro de inscritos. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem dizendo que não é razoável comparar um hub global erguido com petrodólares com uma capital no meio da Amazônia.
Ainda assim, o desafio logístico será enorme – e o tempo está correndo.
Valter Correia, um jornalista que fez carreira na Dataprev, empresa de processamento de dados do governo federal, chefia a secretaria extraordinária da COP30. É dele a responsabilidade de coordenar os trabalhos para que tudo ocorra com o mínimo de sobressaltos.
“Não tem fórmula mágica”, afirmou Correia ao Reset. “Não é trivial realizar um evento desse porte. Seria um desafio em qualquer outra cidade do país.”
Correia diz que o teto de credenciados sugerido pela ONU é uma volta aos padrões tradicionais das COPs do clima, que vêm inchando nas últimas edições.
A COP29, que acontece em novembro em Baku (Azerbaijão), terá esse mesmo tamanho, segundo ele. Outra medida anunciada é a antecipação da cúpula de líderes, que reúne mais de cem chefes de Estado e de governo.
Haverá um dia de intervalo entre o encontro e o início oficial da conferência, para desafogar os hotéis e as vias da cidade, que precisarão de esquemas especiais para o deslocamento seguro das autoridades.
Até o momento foram anunciadas obras que superam os R$ 4 bilhões, divididos entre os governos federal, estadual e municipal.
A maior delas é o Parque da Cidade, uma área de 50 hectares pela qual o Estado pagou R$25 milhões para a União ainda em 2021, antes mesmo da COP ser vislumbrada.
Com custos estimados em R$980 milhões, o local está em fase de paisagismo e, segundo o governo, deve contar com um centro de gastronomia e outro de economia criativa, além de áreas verdes e quadras poliesportivas.
No local, onde ficava o antigo aeroporto da cidade, está sendo construído um centro de convenções onde deve acontecer a parte oficial das negociações da conferência.
‘Imagina na COP’
Uma das grandes preocupações diz respeito ao trânsito. As ruas da cidade estão constantemente engarrafadas, e o sistema de mobilidade urbana ficou estacionado no passado.
Há décadas os moradores da cidade escutam promessas de uma “recauchutagem geral” na avenida Doca de Souza Franco, a larga via que liga os bairros Reduto e Umarizal à Baía do Guajará, cortada no meio por um canal de esgoto.
A avenida deve ser central para a COP, pois dá acesso à Estação das Docas e ao Porto Futuro, pontos turísticos à beira do rio e que irão receber diversos eventos ao longo da conferência.
O governo estadual promete entregar na Doca um parque linear, com novas redes de esgoto e obras de drenagem que incluem seis comportas para amenizar eventuais cheias do rio. Além da urbanização, o objetivo é prevenir alagamentos, que são frequentes na cidade.
Segundo dados oficiais, 13% da obra está concluída.
A região também tem alguns dos pontos imobiliários mais valorizados da cidade. Por lá, estão em andamento as obras do Porto Futuro II, que transformará parte da área portuária da capital em um complexo multifuncional de turismo e lazer.
Três viadutos foram anunciados na região metropolitana para aliviar a pressão do tráfego entre a BR-316 até o centro da cidade, criando corredores alternativos pelas duas cidades vizinhas.
Há um ano, a capital paraense sediou a Cúpula da Amazônia, quando 27 mil visitantes estiveram pela cidade ao longo de uma semana. Na época, o caos nas ruas já deixou os belenenses estressados.
A expressão irônica “Imagina isso na Copa”, ouvida antes do Mundial de 2014, foi adaptada: “Imagina isso na COP”.
Fonte:
Texto e imagem – Eduardo Laviano para o Reset.