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Fundamentalismo, terrorismo, genocídio

Artigo de Leonardo Boff

“A retaliação pelo Estado sionista de Israel, sob B. Netanyahu, foi tão assimétrica e desproporcional que, segundo a própria ONU, representa um verdadeiro genocídio do povo palestino da Faixa de Gaza com a morte de milhares de criancinhas inocentes, de civis e da destruição de grande parte das casas”, escreve Leonardo Boff, teólogo e escritor, autor de, entre outros livros, de O doloroso parto da Mãe Terra: uma sociedade de fraternidade sem fronteiras e de amizade social (Vozes, 2021); Comensalidade e a cultura da paz (Vozes, 2015).

Temos assistido no dia 7 de outubro um ato terrorista contra Israel, perpetrado pelo grupo armado Hamas da Faixa de Gaza que é também uma forma convencional de organização civil da sociedade que a administram. A retaliação pelo Estado sionista de Israel, sob B. Netanyahu, foi tão assimétrica e desproporcional que, segundo a própria ONU, representa um verdadeiro genocídio do povo palestino da Faixa de Gaza com a morte de milhares de criancinhas inocentes, de civis e da destruição de grande parte das casas. Criou-se um Estado terrorista. Grassa pelo mundo afora uma onda de fundamentalismo, associado ao terrorismo e, em sua forma extrema, ao genocídio. Comecemos com o fundamentalismo.

fundamentalismo não é uma doutrina mas uma maneira excludente de ver a doutrina. O fundamentalista está absolutamente convencido de que sua doutrina é a única verdadeira e todas as demais, falsas. Não tendo direito, podem e devem ser combatidas. Quando alguém se considera portador de uma verdade absoluta, não pode tolerar outra verdade e seu destino é a intolerância que degenera em desprezo do outro, agressividade e eventualmente guerra.

Ocorre com parte do judaísmo que se chama sionismo que pretende um Estado só de judeus. Este diz que a terra da Palestina foi por Deus entregue aos judeus e este teriam o direito de um estado exclusivamente deles. Em função disso, ocupam terras da Cisjordânia, expulsam seus habitantes árabes, tomando-lhes as casas e tudo que está dentro. O sonho do sionismo raiz busca criar um estado judaico do tamanho do tempo do rei Davi. Uma parte dos palestinos e dos árabes da região acham ter o seu direito secular e recusam reconhecer Israel como Estado por ser usurpador.

Declaram o propósito de defender e recuperar suas terras expropriadas e para isso se armam e praticam atos de violência, chegando ao terror como resposta ao terror dos radicais judeus que sofrem já há 75 anos.

Quais as características do terrorismo? A singularidade do terrorismo consiste na ocupação das mentes. Nas guerras não bastam os bombardeios aéreos, como se veem nos centenas de raids aéreos israelenses. Precisa-se ocupar o espaço físico para efetivamente se impor. Assim foi no Afeganistão e no Iraque e agora na Faixa de Gaza por parte do exército israelense. No terror não. Basta ocupar as mentes com ameaças que produzem medo, internalizado na população e no governo. Os norte-americanos ocuparam fisicamente o Afeganistão dos talibãs e o Iraque de Saddam Hussein. Mas a Al-Qaeda ocupou psicologicamente as mentes dos norte-americanos. O então ainda vivo Osama Bin Laden, no dia 8 de outubro de 2001 proclamou: “A partir de agora, os EUA nunca mais terão segurança, nunca mais terão paz”.

Para dominar as mentes pelo medo, terrorismo segue a seguinte estratégia:

  1. Os atos precisam ser espetaculares, caso contrário, não causam comoção generalizada.
  2. Apesar de odiados, devem provocar estupefação pela sagacidade empregada.
  3. Devem sugerir que foram minuciosamente preparados.
  4. Devem ser imprevistos para darem a impressão de serem incontroláveis.
  5. Devem ficar no anonimato dos autores (usar máscaras) porque quanto mais suspeitos, maior o medo.
  6. Devem provocar permanente medo.
  7. Devem distorcer a percepção da realidade: qualquer coisa diferente pode configurar o terror. Um árabe num avião facilmente é visto como terrorista e são acionadas as autoridades. Depois, vê-se que era um simples cidadão.

Formalizando: o terrorismo é toda violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com medo e pavor. Além da violência, o que se busca é seu caráter espetacular, capaz de dominar as mentes de todos. De modo geral, o terrorismo é a guerra dos fracos, dos sempre dominados e humilhados. No limite, como atualmente na Faixa de Gaza, não lhes resta outra alternativa senão resistir e cometer atos de violência. A resiliência possui seus limites.

Tememos que, após a violência genocida de Israel na Faixa de Gaza ceifando tantas vítimas inocentes, especialmente de milhares de crianças, de mulheres e também de civis, ocorram pelo mundo afora atos de terror contra os judeus ou mesmo irrompa um antissemitismo, semitismo que não deve ser identificado com o sionismo raiz.

Deus nos livre deste horror que suscita o espírito de vingança e a espiral da violência assassina.

Dada a virulência que os países militaristas aplicam àqueles que se opõem a eles, bem representados pelos estadunidenses, teme-se que o terrorismo se transforme numa manifestação em muitos países dominados. Ele não nasce em si. É a explosão de uma dominação e humilhação tão desvairada (violência primeira) que não veem outra alternativa a não ser rebelar-se, alguns se fazerem homens-bombas e praticarem atos de terror (violência segunda).

A resposta dos países dominadores é revidar de forma mais violenta ainda, fazendo guerras híbridas e absolutamente assimétricas com as armas mais modernas, matando indiscriminadamente pessoas, arrasando-lhes as casas e cometendo verdadeiros genocídios, no sentido de assassinarem crianças e idosos que nada têm a ver com a guerra, destruírem templos, hospitais, escolas e centros de cultura. Não é mais um guerra do forte contra o fraco, mas crimes de guerra e de real genocídio por parte do forte.F

Fonte:
Texto –
Instituto Humanitas Unisinos.
Imagem – Metrópoles.

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