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Schwartzman: “Precisamos de uma reflexão mais aprofundada para construir uma política de C&T adequada ao tempo que vivemos”

Por Mariana Ceci, jornalista e mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Construir uma política de ciência e tecnologia mais adequada ao tempo que vivemos: para Simon Schwartzman, esse é um dos principais desafios na elaboração da Política Nacional de Ciência e Tecnologia, que está em curso no Brasil a partir da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Doutor em Ciência Política pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, Schwartzman tem uma longa carreira de pesquisa pautada em estudos sobre educação superior, ciência e tecnologia e política comparada.

Schwartzman, que é professor aposentado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Grão-Mestre da Ordem Nacional do Mérito Científico e Comendador da Ordem do Mérito Educacional. Ele foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1994 a 1998; professor e pesquisador visitante no Woodrow Wilson International Center for Scholars, nos Estados Unidos; na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França; no Swedish Collegium for Advanced Studies in Social Science, na Suécia; e no St. Anthony’s College e Centre for Brazilian Studies, ambos em Oxford, no Reino Unido.

Na Pesquisa da Pesquisa, ele coordena, ao lado da pesquisadora Elizabeth Balbachevsky, a Frente 4 do projeto, intitulada: “Indicadores e metodologias de análise de instituições de ensino superior (IES) e Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs)”. A frente tem como objetivo desenvolver novas tipologias de instituições de Ensino Superior e pesquisa mais precisas em relação às características destas instituições em sua composição e natureza, bem como ao que entregam à sociedade, como formação, pesquisa, extensão e outros.

A equipe de comunicação da Pesquisa da Pesquisa conversou com o professor Simon Schwartzman sobre sua trajetória, os estudos desenvolvidos no projeto e sua relação com o contexto contemporâneo brasileiro. Confira:

Quais têm sido seus principais temas recentes de pesquisa e como eles se relacionam com o que está sendo desenvolvido na Pesquisa da Pesquisa?

SCHWARTZMAN – Meu trabalho recente e também neste projeto tem a ver com o sistema brasileiro de educação superior, do qual a parte científica é uma área importante. Uma grande parte da pesquisa brasileira é realizada nas universidades. Ainda que muitas universidades não realizem pesquisa, ou realizem pouca pesquisa, a pesquisa universitária é muito importante no contexto brasileiro.

Quando você olha para o sistema de educação superior, é preciso distinguir as instituições onde a pesquisa e a pós-graduação têm um papel importante, e outras, que realizam outras atividades. Este tema em que estamos trabalhando [na Frente 4], basicamente tem essa ideia de fazer o mapeamento das instituições de Ensino Superior no Brasil e verificar quais são as diferentes funções que diferentes tipos de instituições desempenham.

Qual a importância de fazer essa caracterização?

SCHWARTZMAN – Isso é importante do ponto de vista da política educacional e também do ponto de vista da política científica. Do ponto de vista da política científica, você não pode esperar que todo o sistema de educação superior esteja realizando pesquisa. Você precisa saber onde ela está sendo feita, em quais instituições e em que contexto. Isso é importante não apenas na parte da pesquisa, mas para todo o sistema de educação superior: saber quais são os diferentes tipos de atividades que estão sendo realizadas e em que tipo de instituição.

Para fazer isso, o trabalho que fizemos nesta parte do projeto foi uma tipologia das instituições de ensino superior. Buscamos os dados que são basicamente públicos sobre os cursos de graduação, que são os dados do Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira], do Ministério da Educação, buscamos os dados da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], que são os dados da pós-graduação, juntamos esses dados de duas bases em uma base unificada, abrangendo um período de 10 anos, e começamos a analisar como o sistema brasileiro de educação superior está organizado, não apenas do ponto de vista legal, mas do ponto de vista real, para ver que tipos de instituições nós temos. E então encontramos algo como 8 ou 9 tipos diferentes de instituições, que realizam atividades diferentes, têm formas diferentes de atuação e atendem pessoas com características diferentes. Então, acredito que a contribuição mais importante do projeto seja esse mapeamento.

Além disso, iniciamos outro trabalho, que está em andamento, sobre institutos de pesquisa que não são universitários. Estamos nos concentrando mais no estado de São Paulo, aplicando uma lógica um pouco diferente, pois não temos o mesmo conjunto de informações e dados que podemos usar para uma análise estatística disso. É um trabalho que está começando, com outras características.

Está em curso no Brasil o processo preparatório para a 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação. Na sua visão, como a pesquisa sobre o sistema de educação superior brasileiro pode contribuir para a formulação dessa política?

SCHWARTZMAN – No Brasil, ainda temos a tendência de simplesmente dizer que temos pouco dinheiro e que o governo precisa nos dar mais dinheiro. Acredito que a questão da política de ciência e tecnologia seja mais complicada do que isso. A ideia é que as instituições que realizam pesquisa, com sua cultura, suas características, e as que realizam pós-graduação, merecem uma análise mais rica e completa, do que simplesmente dizer “precisamos de mais dinheiro”. Na área da pós-graduação, isso é muito importante, por exemplo, porque há uma certa suposição de que a pós-graduação brasileira está ligada à pesquisa. E, na verdade, ela está ligada apenas em parte à pesquisa, pois uma boa parte da pós-graduação brasileira é simplesmente uma formação universitária mais avançada, não pesquisa.

Se você não compreende como o sistema é diferenciado, como diferentes pessoas buscam realizar atividades diversas, você não consegue entender como estabelecer prioridades e uma política para o setor.

Precisamos fazer uma reflexão mais profunda sobre como está organizado nosso sistema de pesquisa, de educação superior, de pós-graduação, para realmente ter uma política de ciência e tecnologia mais adequada para os tempos em que estamos vivendo.

Publicado em:Notícias