Novo eBook reúne experiências e debates sobre a educação em solos no Brasil e o papel dos espaços de ciências e os museus de solos nos processos educacionais, além de apresentar diversas iniciativas em várias regiões do Brasil.
por: Diego F. T. Machado
A paixão pela educação em solos e o desejo de compreender melhor os espaços onde ela acontece foram o ponto de partida para a criação do livro. A obra nasceu de um encontro inspirado entre educadoras comprometidas com a difusão do conhecimento sobre os solos e suas múltiplas trajetórias.
Organizado por Jully G.R. Oliveira, Cristine C. Muggler, Lygia O. Ribeiro e Adriana A. Ribon, o eBook reúne uma seleção de trabalhos que caracterizam e analisam experiências desenvolvidas em instituições educativas, espaços de ciências, e outras estruturas que se dedicam a comunicar e ensinar sobre os solos. Em comum, essas iniciativas compartilham o compromisso com uma educação com abordagens diversificadas e significativas.
Sobre o Livro
A proposta do livro é clara: refletir sobre os espaços de ciência e sua atuação na promoção da Educação em Solos no Brasil, considerando suas características, formatos e objetivos. Mais do que definir categorias, o foco está em valorizar a diversidade de iniciativas e práticas que aproximam a ciência do público.
As atividades descritas nos capítulos vão desde exposições temáticas e oficinas práticas até visitas guiadas e ações lúdicas que incentivam o “aprender fazendo”. Os espaços de ciência aqui retratados atuam de forma qualificada na popularização da ciência dos solos, estimulando o interesse de públicos diversos e contribuindo para a valorização desse recurso essencial para a vida.
O livro também lança luz sobre os desafios e as possibilidades desses espaços: como se organizam? Quais públicos atendem? Como se posicionam entre diferentes formatos de divulgação científica? As respostas são múltiplas e revelam um cenário rico, dinâmico e em constante construção.
LABPED – e a Oficina “Solo não é Sujeira”
O Laboratório de Pedologia, orgulhosamente apresenta sua contribuição á obra, destacando o processo de consolidação da Oficina “Solo não é Sujeira” e a Experiência com o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (PIBIC-EM). Buscamos compartilhar as experiências acumuladas ao longo de cinco anos no desenvolvimento do projeto “Criação da coleção de monólitos de solo e produção de material de apoio didático para o Instituto de Geociências – UNICAMP” e seus desdobramentos. Destacamos os procedimentos adotados, as pesquisas realizadas e como nossa jornada tem buscado estimular o interesse de estudantes em aprofundar sua compreensão sobre os solos e suas interações com o meio ambiente e a sociedade.
Trilhando Redes, Cultivando Conhecimento
Com essa obra, ampliam-se as possibilidades de diálogo entre educadores, pesquisadores e gestores, fortalecendo redes de troca e cooperação. Trilhando a Educação em Solos é uma leitura essencial para quem acredita que a ciência deve estar cada vez mais próxima das pessoas — e que o solo é um caminho fértil para esse encontro.
Baixe o eBook gratuitamente e descubra como os espaços de ciência estão contribuindo para transformar a relação da sociedade com os solos.
Amandha Araujo; Bárbara Gumiero; Beatriz Foleis; Diego F.T. Machado –
Nas últimas décadas, observamos a consolidação de diversas ações em prol da difusão e popularização do ensino em solos voltadas aos ciclos básicos do ensino formal, todavia, essa estrada ainda não está completamente pavimentada e seguimos firmes, aos trancos, entre os barrancos!
O solo é um importante recurso para o planeta, sendo uma mistura de minerais, material orgânico, gases, líquidos e uma diversidade de micro e macro-organismos, assim compondo a pedosfera (Tassinari et al, 2017). É um corpo natural que demora um longo período para ser formado dependendo da ação de cinco fatores específicos, sendo eles: clima, relevo, organismos, material de origem e tempo.
A pedosfera, que aloja os solos, está em comunhão com a biosfera, composta por todos os seres vivos que habitam a Terra; a litosfera que é a parte solida do planeta; a hidrosfera que contém a toda água existente e a atmosfera, composta pela fração gasosa que envolve o todo, inclusive os chamados “espaços vazios” do solo. Walter F. Molina Jr – Adaptado de UNESCO (2007).
Os obstáculos…
No Brasil, atualmente, o ensino de solos épouco trabalhado no ensino básico, se voltando principalmente para o ensino superior. O obstáculo para tornar o ensino de solos mais efetivo nos ciclos básicos passa pela adequação dos materiais didáticos e uma mudança nos métodos atuais de ensino, visando o docente e sua formação.
Os livros didáticos e apostilas utilizados no ensino dos ciclos básicos apresentam pouco conteúdo sobre solos, em sua maioria voltados para agropecuária (Sousa, 2012) além de exibirem termos que são muitas vezes complexos e/ou defasados para o entendimento dos estudantes (como terra roxa e massapê). Vale ressaltar que não se espera extinguir regionalismos ou mesmo termos antigos que ainda são usados informalmente, todavia, sua correlação com as terminologias atuais é necessária.
Adaptações para uma comunicação mais efetiva
A linguagem para o ensino dos solos ainda é muito complexa e não é própria para o ensino básico. É necessário uma readaptação do vocabulário sobre o ensino de solos, de forma a chegar-se ao entendimento por parte do aluno, sem deixar de lado os termos técnicos que especificam sobre as ordens e subordens ou sobre as características dos solos. Deve-se portanto buscar, sem deixar de lado os rigores científicos, uma comunicação mais efetiva que pode se dar via analogias, ilustrações, e e diversos elementos lúdicos, por exemplo.
Exemplo de atividade lúdica aplicado ao ensino sobre as ordens de solos de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS) – Jogo das ordens dos solos do Brasil –Projeto Solo na Escola UFCS
A efetivação das ações passa pelo tripé Pesquisa-Ensino-Extensão
É importante que centros de pesquisa e instituições relacionadas à ciência do solo, produzam e divulguem material didático acessível às escolas. De acordo com Prates (2010), observa-se uma escassez e até ausência do conteúdo sobre solos nos livros didáticos, na qual o professor se apoia completamente como referência para as práticas de ensino. É preciso fazer adaptações importantes para os professores e escolas visando suas condições e necessidades, buscando ainda, adequar a realidade local.
Reportagem apresentada na e-Paraná TV sobre a Exposição Didática de Solos do Programa Solo na Escola/UFPR.
O mal na raiz – defasagem no processo de formação dos professores
Há uma dificuldade por parte de alguns docentes quanto ao domínio deste tema, em casos os quais os mesmos não dispunham da disciplina de pedologia em sua grade curricular e/ou não tiveram acesso a formação continuada. Outro aspecto se dá pelo distanciamento entre o teor dos conteúdos e as formas de avalição nas IES e como levar isso para as salas de aula. Essa carência de atividades didáticas faz com que os professores exerçam métodos menos eficientes, por vezes menos dinâmicos, limitando o processo de aprendizagem dos alunos.
A complexidade na abordagem de temas relacionados à pedosfera pode representar um desafio para os professores do Ensino Fundamental, dada a dificuldade de compreensão deste meio heterogêneo e ao mesmo tempo singular, especialmente no primeiro e segundo ciclos (Lima, 2005). Porém, Falconi (2004) destaca que os professores avaliam que a limitação em transmitir e ensinar o conteúdo solo pode não ser resultado da complexidade do assunto, mas da formação do docente, acentuada pela dificuldade em entender o conteúdo expresso nos livros didáticos.
O papel das IES para a formação continuada de professores
Existe uma falta de atualização dos professores ao conteúdo mais recente, produzido principalmente nas universidades, e que não é levado para o ensino básico. O ensino continuado oferecido pelas universidades vem como uma alternativa para o ensino do solo ocorrer de melhor forma em sala de aula. Segundo Lima (2005), é necessário que as IES (Instituições do Ensino Superior) contribuam para melhorar o ensino de solos, qualificando a formação pedológica dos futuros professores, e propor atividades que auxiliem na melhoria da capacitação dos professores para compreender e ensinar sobre solos.
O curso oferecido pelo Programa Ponte-Solo na ESALQ-USP é uma de tantas iniciativas que visam fornecer atualizações voltadas ao ensino de solos.
Um esforço para atividades mais “ativas”
A forma tradicional de ensinar, onde o professor passa o conteúdo em uma lousa e os alunos copiam, tem ficado cada vez mais desatualizado. O estudo dos solos não é apenas teórico mas também prático, pedindo que as aulas também aconteçam de forma dinâmica, como por exemplo, explorando o solo em ambientes da escola ou do bairro, e quando isso não é possível, experimentos podem cumprir este papel. De acordo com Garcia et al (2016) deve-se tratar o ensino de maneira dinâmica e integrada, com novas metodologias, deixando o ensino fragmentado de lado. É necessário novas formas de abordar o ensino, fazendo com que o aluno entenda a totalidade mesmo estudando as partes.
Algumas considerações finais…
O solo é um importante recurso natural e deve ter maior destaque no ensino dadas suas múltiplas funções ecossistêmicas. Os livros didáticos precisam de uma reformulação, sua linguagem precisa ser atualizada levando em conta um vocabulário claro e objetivo, de acordo com seu referente grau de escolaridade. O conteúdo sobre solos produzido no ensino superior também deveria se estender para o ensino fundamental. Os professores devem se ater ao fato de que o ensino dos solos também é prático, e que atividades fora da sala de aula agregam para o aprendizado do estudante e para o maior entendimento sobre a importância dos solos. As universidades, Institutos de Agronomia e Institutos de Geociências poderiam desenvolver materiais para esses ciclos, assim como cartilhas e conteúdos relacionados, também podem ser desenvolvidos pelas escolas, com capacitação dos docentes, e um ensino continuado no assunto, fazendo com que o ensino de solos seja viável e acessível a todos os estudantes no ensino básico.
Bibliografia consultada
Falconi, S. 2004. Produção de material didático para o ensino de solos. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro-SP
Garcia, P. H. M.; Cavalcante, J. A. D.; Pereira, R. S.; Balieiro, A. B. 2016. O Ensino dos Solos: A Interdisciplinaridade na Sequência Didática. Revista Ensina: As diversas metodologias do ensino. UFMS, MS. v. 1, n. 1, p. 9. Disponível em: <https://desafioonline.ufms.br/index.php/anacptl/article/view/1909> Acesso em 20/05/2021.
Lima, M. R. de. 2005 O Solo No Ensino De Ciências No Nível Fundamental. Ciência e Educação, v.11, n.3, p.383- 395.
Prates, R. 2010 Análise das abordagens e discussões do conteúdo de pedologia nos livros didáticos de Geografia. Dissertação de Mestrado. Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica, RJ. 85 p.
Sousa, H. F. T.; Matos, F. S. jul./ dez. 2012. O Ensino dos Solos no Ensino Médio: Desafios e Possibilidades na Perspectiva dos Docentes. GEOSABERES: Revista de Estudos Geoeducacionais,, Fortaleza, v. 3, n. 6, p. 71-78
Tassinari, D. ; Silva, S. H. G. ; Silva, E. ; Silva, E. A. ; Silva, B. M. 2017. Conhecendo a vida do solo: Volume 1. Editora UFLA, Minas Gerais. 32 p.
Molina Junior, Walter Francisco. Comportamento mecânico do solo em operações agrícolas [recurso eletrônico] / Walter Francisco Molina Junior. – – Piracicaba : ESALQ/USP, 2017. 223 p. : il
Autoria: Amandha Araujo; Bárbara Gumiero; Beatriz Foleis; Diego F.T. Machado
Edição: Diego F. T. Machado
Este artigo foi realizado como parte das atividades previstas no projeto “Criação de uma Coleção de Macromonolitos de solos para o Instituto de Geociências da Unicamp” vinculadas ao programa Pibic Ensino Médio, coordenado pelo prof. Francisco S.B. Ladeira.