De Santos a Pisa – É Puro Recalque

por Tainá N. de Almeida

Os solos exercem diversas funções, dentre elas, serve como base para estabelecimento da infraestrutura humana, e por isso, compreender o comportamento dos solos é fundamental para garantir nossa segurança e bem estar.


Santos é uma cidade costeira localizada no estado de São Paulo, a maior cidade do litoral paulista, cuja população estimada é de 433.656 habitantes. Conhecida pela extensa faixa de areia (são 7 km de praia) e por alocar um dos principais portos do país, o município também ficou famoso pelos ‘prédio tortos‘ ao longo de sua orla.

Por volta de 1940, com a expansão da cidade, a orla de Santos começou a ser rapidamente ocupada por edifícios entre 10 e 20 andares.

A partir dos anos 1970, os prédios começaram a afundar. O recalque¹ dos prédios atingiu até 120 cm e inclinações de até 2°, totalizando 65 prédios com estrutura comprometida.

¹Recalque (ou abatimento) – Movimento vertical de uma estrutura, provocado pelo próprio peso ou devido à deformação do subsolo por outro agente, tal como remoção do confinamento lateral, efeito de bombeamento de água e efeito do rebaixamento generalizado do lençol freático. (Glossário Geológico)

Imagem: Prédios inclinados devido ao deformação do subsolo na orla de Santos-SP
Reprodução Danilo Verpa – 4.jun.12/Folhapress

As causas? – Dois fatores combinados!

  • Os solos. O solo de santos é formado por uma camada de areia fina compacta, de 6 a 20 m de espessura. Logo abaixo, encontra-se uma camada de argila muito mole de até 40 m de espessura. As argilas muito moles têm alta compressibilidade e, por isso, as construções sobre esses solos precisam de muita atenção.
  • As fundações dos edifícios. Os edifícios construídos na época têm fundações diretas com sapatas². Como a camada superficial de areia é compacta, acreditava-se que uma fundação rasa seria suficiente. Com o tempo, percebeu-se que, devido ao solo mole abaixo da areia, os edifícios tinham grandes chances de sofrer recalque. Mesmo assim, as construtoras continuaram usando o mesmo tipo de fundação por julgarem as demais opções economicamente inviáveis.

²Sapata – Tipo de fundação rasa de uma construção, constituída por um maciço de alvenaria ou concreto armado. (Glossário Geológico)

O resultado foram os característicos prédios tortos da orla de Santos. A grande quantidade de edifícios muito próximos gerou altas tensões na camada de argila, que adensou, afundando e inclinando os prédios.

A inclinação dos prédios se dá pela sobreposição dos bulbos de tensão (área de influencia da pressão do edifício sobre o solo) dos prédios. Os prédio inclinam para o lado em que o solo concentra maior tensão.

Fonte: Milititsky; Consoli; Schnaid (2015)

Diversas técnicas foram usadas para estabilizar o recalque dos prédios, como injeções de argamassa para expandir o solo ou uso de estacas profundas que ultrapassam a camada de argila. O caso dos prédios de Santos deixa o alerta de como é extremamente importante conhecermos os solos sobre os quais vivemos e, no caso, construímos.       

Sabia que esse é o mesmo caso da Torre de Pisa?

A  torre, construída entre 1173 e 1372, foi erguida  sobre uma camada de areia que sobrepõe uma camada muito argilosa. A inclinação foi observada durante seus 199 anos de construção e, na tentativa de compensar a inclinação, seus últimos andares foram feitos mais altos de um lado.

Imagem: Reprodução Ray Harrington/Unsplash

Fontes consultadas:

DIAS, M. S. Análise do Comportamento de Edifícios Apoiados em Fundação Direta no Bairro da Ponta da Praia na Cidade de Santos. p. 145, 2010.

https://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/predios-tortos-de-santos-como-eles-estao-hoje/

LEITÃO DIAS, L. K.; TELES ANDRADE, A. C. O.; DANTAS, E. S.; ARAÚJO, M. E. P.; SILVA, M. de J. Geotecnia: fundações e obras de terra. Caderno de Graduação – Ciências Exatas e Tecnológicas – UNIT – SERGIPE[S. l.], v. 1, n. 2, p. 27–43, 2013. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/cadernoexatas/article/view/315. Acesso em: 14 jun. 2021.

MILITITSKY, J.: CONSOLI, C.; SCHNAID, F. Patologia das fundações. São Paulo: Oficina de Textos, 2015. Disponível em: <http://ofitexto.arquivos.s3.amazonaws.com/Patologia-das-fundacoes-2ed-DEG.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2021.


Texto escrito por Tainá Nogueira de Almeida

Edição: Diego F.T. Machado

Fotografia da Capa: Reprodução https://www.maissantos.com.br/


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