As “Pedras Equilibristas”

por: César H. B. de Farias –

Impossível se manter indiferente a estes monumentos naturais, as Pedras Equilibristas se destacam na paisagem e no imaginário popular.


As “Pedras Equilibristas” também conhecidas como “Balanced Rocks” ou “Precariously Balancing Rocks” (PBRs) em inglês ou “Piedras Equilibristas” em espanhol são feições naturais resultado da ação de processos de origem geológica e/ou geomorfológica compostas por grandes blocos rochosos que se mantém em um delicado equilíbrio sobre um ou mais pontos de apoio.

Seu equilíbrio é tamanho que muitas destas feições aparentam estar prestes a tombar/desmoronar, no entanto, nenhum ser humano foi capaz de movê-las (ainda). Tais feições apresentam milhares (ou alguns milhões) de anos de idade e podem ser encontradas em todo o mundo sob os mais diferentes tipos de rochas (granitos, basaltos,  arenitos, quartzitos) e regimes climáticos (tropical, temperado e árido), sobretudo naquelas áreas cratônicas e/ou de cinturões orogênicos antigos.

Origem e Significado das Pedras Equilibristas

A origem destas feições é amplamente discutida no meio científico e está comumente associada à evolução de espessos mantos de intemperismo, típicos de margens passivas1 sujeitas a climas tropicais úmidos e posterior exposição em função da denudação fluvial ou pluvial.

1Borda ou margem de um continente sem tectonismo pronunciado como, por exemplo, as margens continentais junto à costa brasileira, e que não coincidem com borda de placa tectônica. Glossário Geológico – CPRM

Alguns autores indicam a possibilidade de blocos transportados por geleiras, mas estes exemplos são mais raros e restritos a regiões que foram atingidas pelo último máximo glacial. Para diversos autores a origem, o desenvolvimento e sobretudo a preservação dos blocos na paisagem pode ser tradicionalmente explicada pelo seguinte modelo:

Modelo de desenvolvimento proposto para as “Pedras Equilibristas” encontradas em áreas graníticas. Estágio I) Inicialmente ocorre o intemperismo químico subsuperficial ao longo das superfícies das juntas e o desenvolvimento de material transportável mecanicamente; Estágio II) Exumação dos núcleos esferoidais assim como sua colocação em posições precárias/pouco usuais. Fonte: Twidale, 1982.

Rabassa et al. (2021) afirmam que as pedras equilibristas encontradas na América do Sul estariam diretamente relacionadas às áreas de ocorrência da antiga Paleo-superfície Gondwana, sendo um forte indicativo da presença de climas tropicais úmidos no passado do nosso continente.

Além disso, é comum na literatura trabalhos associando tais feições com a estabilidade tectônica local. A simples presença de tais estruturas pode ser interpretada como um importante indicativo para a paleosismologia, uma vez que seu delicado equilíbrio poderia ser facilmente rompido, mesmo por abalos sísmicos de baixa intensidade.

De forma geral ainda se sabe muito pouco sobre o real significado geológico/geomorfológico e até mesmo histórico/arqueológico destas feições, uma vez que várias pedras se encontram associadas a sítios arqueológicos e a pinturas rupestres.

Potencialidades e Exemplos Brasileiros

Uma das principais potencialidades das “Pedras Equilibristas” reside na sua capacidade de atrair turistas, indicando um elevado potencial para a criação de Geoparques, objetivando a exploração econômica das áreas de ocorrência e sobretudo sua preservação ambiental. Apesar de reconhecido, esse potencial ainda é muito pouco explorado no território nacional.

Dentre as iniciativas de destaque temos o Parque Pedra da Cebola, localizado no Bairro Mata da Praia em Vitória no Espírito Santo. A Pedra da Cebola recebe esse nome em função de seu aspecto “descamado” similar às palhas de uma cebola. Trata-se de um granito porfirítico (Granito Vitória) que apresenta matriz de granulação média e coloração acinzentada.

Vista Geral do Parque da Pedra da Cebola em Vitória – ES, nota-se os jardins e a Pedra da Cebola ao fundo com seu aspecto “descamado”. Fonte: Ana Paula de Oliveira

O Parque constitui uma das principais áreas abertas à visitação pública em Vitória e conta com uma ampla gama de atrações, playground, pistas para caminhada, jardim oriental, mini zoológico, áreas dedicadas às práticas esportivas e um Centro de Educação Ambiental voltado a práticas pedagógicas que buscam estimular a reflexão e o aprendizado de temas ambientais.

Outro importante exemplo no território nacional é a Pedra Chapéu do Sol que se localiza na região norte do Município de Cristalina, no Estado de Goiás, mais precisamente na porção central do Domo de Cristalina. Trata-se de um gigantesco monólito de quartzito que pesa aproximadamente 350 toneladas e possui cerca de 13,7 metros de comprimento, sendo datada em 1.2 bilhões de anos. O bloco possui um alinhamento de seu eixo principal na direção N-S e uma inclinação de aproximadamente 10o, sendo uma das principais atrações turísticas do estado. Vale destacar que no imaginário popular a pedra seria a responsável por “manter o equilíbrio” do mundo.

Pedra Chapéu do Sol. Fonte: Clodoaldo Lemes

Referências

Rabassa, J. ; Martínez, O. ; Colman, C. ; Ladeira, F.S.B. ; Sarubbi, Y. The Piedra Movediza (“Rocking Stone”) of Tandil (Province of Buenos Aires, Argentina) and The “Piedras Equilibristas” (“Balancing Rocks”) of Paraguay and Brazil. In: Pablo Bouza; Jorge Rabassa; Andrés Bilmes (Orgs). Advances in Geomorphology and Quaternary Studies in Argentina: Proceedings of the Seventh Argentine Geomorphology and Quaternary Studies Congress. Springer, v.1, 2021, pp. 219-243.

Silva, A. F. ; Gonçalves, S. L. ; Machado Filho, L. Geoparque e Educação Ambiental no Parque Pedra da Cebola. In: 49º Congresso Brasileiro de Geologia, 2018, Rio de Janeiro – RJ. Geologia: Conhecer o passado para construir o futuro.

Twidale, C. R. Granitic Landforms. Elsevier, Amsterdam, 1982. 372p.


Texto: César Henrique Bezerra de Farias

Edição: Diego F. T. Machado

Foto da capa: CHON KIT LEONG/ALAMY STOCK PHOTO


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