A ação do clima na erosão dos solos no litoral brasileiro

por: Pedro M. Cheliz –

A ação das tempestades marinhas esta ligada com a erosão de solos no litoral, e existem possibilidades do problema se agravar com o tempo


A ação do clima pode trazer impactos para a erosão dos solos presentes no litoral. Tais mudanças não estão necessariamente associadas apenas a uma possível elevação do nível dos mar ao longo das próximas décadas, mas incluem também a incidência de eventos climáticos dos dias atuais.

Um exemplo é o possível aumento ao longo do tempo da quantidade e da intensidade das tempestades que atingem as áreas costeiras. Essas tempestades, muitas delas ligadas as frentes frias que se formam decorrentes da passagens de ciclones pelo Oceano Atlântico, contribuem para deixar as águas do mar mais agitadas, e a fazer com que elas atinjam as terras emersas com mais energia. Com isso, as águas removem parte dos solos sobre os quais as vegetações do litoral se instalam.

O aumento da força destas tempestades pode levar, assim, a uma maior ameaça para a conservação de solos e de alguns dos ecossistemas costeiros, como, por exemplo, as restingas.

A restinga é uma planície arenosa costeira, de origem marinha, incluindo a praia, cordões arenosos, depressões entre-cordões, dunas e margem de lagunas, com vegetação adaptada às condições ambientais” – Foto: Diego F.T. Machado

De fato, em muitas áreas do litoral brasileiro vem se registrando tais problemas de perda de solos e vegetação devido a erosão costeira. Uma deles é a Ilha do Cardoso, no litoral sul de São Paulo, no município de Cananéia. Tais processos locais vem sido acompanhado ao longo do tempo por pesquisadores de diversas instituições – tais como IPEC, Instituto Geológico, UFPR, UNICAMP e USP.

Restos de solos e restos de raízes alterados pelo contato com água do mar em outra área que teve seus solos erodidos pelo mar. Fonte: Cheliz (2015)
Árvore com raiz exposta e restos de raízes em área da Ilha que teve seus solos erodidos. Fonte: Cheliz (2015)

A influência das tempestades na ação das águas sobre a terra emersa nos últimos anos contribuiu para que uma parte dos solos e das matas de restingas locais fossem destruídas pela ação do mar. As imagens acima destacam áreas afetadas pela erosão (outrora vegetadas) que foram convertidas em faixas de areia.

Em alguns trechos do norte da Ilha, a linha de costa chegou a apresentar um recuo horizontal maior do que 200 metros em menos de 5 anos, como documentado em recentes estudos de pesquisadores da UNICAMP. (consulte na seção saiba mais)

A ação das águas do mar sobre as terras emersas ao longo do tempo chegaram mesmo a romper a Ilha do Cardoso em duas ilhas menores em 2018, por ocasião de uma forte tempestade marinha ligada a passagem de uma frente fria. Desde então, pesquisadores registraram como centenas de metros quadrados de solos recobertos por diferentes vegetação foram destruídos pela ação das águas do mar.

Imagem de drone obtida logo após o rompimento da continuidade da Ilha do Cardoso pela erosão costeira, e traçados ilustrando as transformações de sua linha de costa desde então, se aproximando de comunidades de pescadores que ali vivem. Fonte: Cheliz et al. (2018). Imagem de drones obtida por Edison Nascimento

Alguns estudos defendem que as tempestades no litoral brasileiro nos próximos anos podem se tornar mais fortes e frequentes, com a ação das chuvas e dos ventos se tornando mais intensas. Uma parte destas mudanças teria influência do impacto da ação humana no ambiente. Desta maneira, é importante que se busque monitorar continuamente a erosão dos solos no litoral, buscando levantar conhecimentos que ajudem a compreender os processos que a controlam para tentar diminuir seus impactos e danos.

Criado em 2021 pelo Instituto de Pesquisas de Cananéia (IPEC). Texto: Pedro Michelutti Cheliz e Shany Nagaoka. Edição e narração: Carime Carrera Pinhatti e Marina Kneipp Ramos. As informações utilizadas no vídeo foram compiladas por Pedro Michelutti e retiradas dos estudos dos seguintes pesquisadores: Carolina Barnez Gramcianinov (USP), Celia Regina Gouveia de Sousa (Instituto Geológico) e Pedro Michelutti Cheliz (UNICAMP). Imagens usadas no vídeo foram compiladas por Pedro Michelutti e Shany Nagaoka, a partir de fotografias e gravações feitas por: Carolina Barnez Gramcianinov, Celia Regina Gouveia de Souza, Edison Nascimento, João Zicuti, Henelice Trudes, Mario Nunes, Noeli Neves, Pedro Michelutti Cheliz, Portal Tempo.com, Rafael Poccia Costa e Shany Nagaoka

Para saber mais

Angulo R.J., Souza M.C., Müller M.E. Previsão e consequências da abertura de uma nova barra no Mar do Ararapira, Paraná-São Paulo, Brasil. Quaternary and Environmental Geosciences, 1(2): 2009, p 67-75.

Müller M.E.J. 2010. Estabilidade morfo-sedimentar do Mar do Ararapira e consequências da abertura de uma nova barra. Pós-Graduação em Geologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Dissertação de Mestrado, 2010, 75p.

Cheliz, P.M. Ilha do Cardoso – contribuições para a compartimentação do relevo. Dissertação de mestrado. 2015.

Souza, C.R; Nunes, M. 2015. Monitoramento de Processos Sedimentares na Enseada da Baleia (Ilha do Cardoso, Cananéia/SP) entre 2007-2015. Anais do XV Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário. São Paulo, 2015.

Gramcianinov, C. Mudanças nos Ciclones do Atlântico Sul devido às Mudanças Climáticas. Tese de doutorado. USP. 2018.

Cheliz, P.M.; Sousa, C.R.G; Nascimento, E; Nunes, M; Oliveira, R.C. Apontamentos sobre oscilações geomorfológicas e impactos ambientais na ruptura da Ilha do Cardoso, e formação de nova barra do Canal de Ararapira (Cananéia-SP). In: Geografia Física e Mudanças Globais. 2019.

Souza, C.R.G; Cheliz, P.M; Nascimento, E; Pisciota, K; Nunes, M; Pocca, R. O PROCESSO EROSIVO NA ENSEADA DA BALEIA, PARQUE ESTADUAL DA ILHA DO CARDOSO (CANANÉIA/SP): EXEMPLO DE ADAPTAÇÃO A RISCOS COSTEIROS. In: Planejando o Futuro Hoje: ODS 13, Adaptação e Mudanças Climáticas em São Paulo. IEE-USP. 2019.


Texto: Pedro Michelutti Cheliz

Edição: Diego F. T. Machado

Foto da capa: Edison Nascimento/Fundação Florestal – Em 2018, após forte ressaca, a Ilha do Cardoso foi dividida em duas, ligadas apenas por uma estreita faixa de areia.

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