Campinas-Brasil

ISSN 1980-4407

_____uni__

 

O ensino de Geologia e a profissão de geólogo

Nos últimos anos o notável renascimento da profissão de geologia no Brasil acompanhou a retomada do desenvolvimento econômico, interrompendo os efeitos da chamada “década perdida”. O fato fez as universidades se organizarem para formar mais geólogos diante da grande demanda, por empresas, órgãos de governo e agentes públicos. Os desafios enfrentados pelos geólogos integram variadas facetas do desenvolvimento social e econômico do país, mas o espaço profissional que a ele compete tem sido disputado de vários modos. A importação pura e simples de geólogos de outros países para suprir a momentânea falta de geólogos é desnecessária. As universidades brasileiras demonstraram capacidade de enfrentar com sucesso a missão. É preciso ampliar expectativas e aumentar a união e a determinação, em busca do fortalecimento dos cursos atuais.

O aparecimento de novos cursos de graduação depende de existirem condições adequadas para pleno funcionamento, já que os desafios são múltiplos: reunir corpo docente de alto nível, adquirir equipamentos, veículos de campo e laboratórios e implantar a infra-estrutura mínima para que aulas e atividades aconteçam com naturalidade e eficácia. Terræ Didatica pode contribuir nesse campo, como suporte de difusão de experiências e práticas educativas.

Desde os anos 1960, a esmagadora maioria dos cursos brasileiros de Geologia continua a ser mantida por universidades públicas. A acelerada privatização do ensino superior nas últimas décadas levou à proliferação de cursos superiores, verdadeiras “máquinas de fazer dinheiro” em escolas privadas. Salvo diversas e bem-conhecidas exceções, a educação tornou-se um modelo de negócio, sobrepondo-se à missão institucional. Nenhum novo curso de Geologia é mantido por instituição particular, mas a possibilidade não está afastada, se prosseguir o incremento da demanda por geólogos, gerando pressões em exames vestibulares das universidades tidas como de referência.

O geólogo tem diante de si o desafio de ajudar a sociedade a conhecer melhor o mundo em que pisamos, sua origem e evolução. A crescente concentração urbana exige capacidade de atuar em campos aplicados à engenharia, meio ambiente e hidrogeologia. Os efeitos de certas catástrofes naturais podem ser minimizados, caso conhecimentos elementares da dinâmica natural – sob o ponto de vista da Geologia - fossem devidamente levados em conta pelas autoridades competentes. O processo de conscientização, também chamado de “alfabetização nas ciências da natureza”, contudo, é lento e depende de muitas variáveis: uma delas é de geólogos profissionalmente bem preparados. Além dessas dificuldades, não temos percebido a importância da difusão desse campo da Ciência na escola básica. A educação em escolas de nível médio e fundamental não desenvolve uma compreensão ampla de como o planeta funciona, condição que ajuda a preparar crianças, jovens e adultos para o pleno exercício da cidadania e contribui para diminuir desigualdades.

Entre os anos 1950-1960 o aprendizado de Geologia fora impulsionado pelo Estado, que criou bem-sucedida Campanha de Formação de Geólogos (CAGE). Desde então, os cursos de graduação e pós-graduação se fortaleceram, mas enfrentam dificuldades de toda ordem. Temos o orgulho de contar com grandes mestres e a competência nacional tem sido internacionalmente elogiada e valorizada. Amadurecida, a Geologia exibe notável vigor no Brasil, como ciência e como profissão, fato comprovado nas inúmeras reu-niões, simpósios e congressos técnico-científicos. O território, contudo, está longe de ser mapeado e conhecido nos níveis atingidos por países mais desenvolvidos.
A reposição de docentes é necessidade permanente: exigem-se novos mestres, capazes de contagiar os jovens de todas as idades que se aventuram a estudar Geologia. Para praticar Geologia, é preciso dispor de sólida base científica, pleno domínio de técnicas e uma certa dose de talento. A profissão é peculiar, porque os desafios e exigências para o aprendizado e exercício profissional são igualmente distintos de outras profissões de nível superior. Os estudantes, com seu típico entusiasmo e alegria, reconhecem o fato. Sabemos dar valor ao campo, o lugar onde se aprende Geologia. A brincadeira de que “Geologia se aprende pelos pés”, reflete a noção de que, quanto mais o geólogo caminha e percorre diferentes locais, mais aprimora sua capacidade de integrar informações e gerar conhecimento novo.

O Estado, a quem cabe a função de regular a preparação profissional, ainda não definiu, no caso da Geologia, as diretrizes curriculares, causando preocupação. Para ajudar a minimizar o problema, neste volume publicamos a versão corrigida e atualizada das Diretrizes Curriculares aprovadas pelo Fórum Nacional de Cursos de Geologia, acompanhada de relatos de reuniões dessa entidade, entre 2006 e 2007.

A revista

Terræ Didatica, no volume 4, persegue a ideia de ser veículo de comunicação geocientífica da comunidade íbero-latino-americana, graças à colaboração de pesquisadores de universidades brasileiras e do exterior.

O volume é integrado por contribuições de autores da Bahia, Paraná e Rio Grande do Sul. Duas delas descrevem ricas experiências e caminhos percorridos em diferentes disciplinas de curso de graduação em Geologia: “Estratégia didática clássica aplicada à disciplina Geologia Introdutória do curso de Geologia da Universidade Federal da Bahia” e “Ensino de técnicas de análises de minerais com ênfase na interpretação de dados: teoria e prática na formação do geólogo”. Outro artigo organiza informações e descreve uma classe mineralógica bastante especial e rara: a das “combinações orgânicas associadas ao hidrogênio”.

Reproduzimos, ainda, conferências do 1º Simpósio de Pesquisa em Ensino e História de Ciências da Terra, e III Simpósio Nacional sobre Ensino de Geologia no Brasil, eventos realizados em Campinas, em setembro de 2007. Como as apresentações não integram os anais dos eventos, decidimos publicá-las neste volume e no próximo, tanto pela importância quanto pelo valor das concepções expostas. A primeira, “Perspectivas actuais sobre o ensino das ciências: clarificação de caminhos”, analisa as bases teóricas de diferentes concepções de ensino de Ciências. O autor argumenta que, nas conexões interdisciplinares entre educação e ciências, a metodologia de ensino e a pesquisa assumem grande importância. Em “Recursos Geoambientais y ciudadania”, o autor expõe as bases de um projeto de pesquisa que procura valorizar a articulação entre universidade e comunidade, utilizando estratégias de formação de cidadania por intermédio de intervenções nas relações entre a sociedade e a natureza.
Esperamos que a leitura dos textos seja proveitosa e estimule leitores e autores a contribuir ainda mais com as próximas edições.

 

 

Os Editores
Campinas, março de 2009

 

 

Volume 14, n4

Volume 14, n3

Volume 14, n2

Volume 14, n1

Volume 13, n3

Volume 13, n2132

Volume 13, n1td13-1

Volume 12, n3td123

Volume 12, n2C122

Volume 12, n1td121g

Volume 11, n3c113

Volume 11, n2112g

Volume 11, n1111

Volume 10, n3V103g

Volume 10, n2TD10-2

Volume 10, n1V10_1G

Volume 9, n2v92g

Volume 9, n1

Volume 8, n2c82

Volume 8, n1TD81G

Volume 7, n2

Volume 7, n1

Volume 6, n2

Volume 6, n1

Volume 5

Volume 4

Volume 3

Volume 2

Volume 1

 

 

 

É necessário um programa leitor de PDF, como o Adobe Acrobat ou o Foxit, para abrir os arquivos dos artigos. Clique nos botões abaixo para fazer o download gratuito.

Foxit Reader: Adobe Acrobat: